Transparência. Esta foi a palavra mais ouvida no primeiro dia da reunião nacional da Cruz Vermelha Brasileira, que acontece em Brasília, até domingo. No evento que reúne mais de 130 representantes de filiais estaduais e municipais também há oficinas técnicas de Finanças e Administração, Captação de Recursos, Primeiros Socorros, Comunicação e Indicadores de Capacidade Organizativa das Filiais. A reunião, a primeira após publicação do novo estatuto da centenária instituição de ajuda humanitária, tem entre seus objetivos projetar e planejar a instituição para as próximas décadas.
Além da presidente da Cruz Vermelha Brasileira (CVB), Rosely Sampaio, a mesa de abertura foi composta pelo chefe do escritório do cone Sul da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), Alexandre Claudon, e do chefe adjunto de Delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para a região, José Antônio Delgado. Também compuseram a mesa, o senador Hélio José, representando o poder Legislativo, e Tadeu Filipelli, assessor especial da presidência da República.
A presidente Rosely Sampaio falou sobre quatro importantes relacionamentos da CVB: com os outros entes do Movimento Internacional da Cruz Vermelha; com o poder público e empresariado; com as filiais e com o voluntariado, além dasituação financeira. Sobre o primeiro item, após isolamento iniciado em 2011, lembrou que a atual gestão promoveu a reinserção do Brasil nas reuniões setoriais com Comitê, Federação e outras Sociedades Nacionais.
Ainda sobre as relações internacionais, Rosely Sampaio citou o Acordo Tripartite, firmado entre CVB, FICV e CICV, que, segundo a presidente, é uma demonstração efetiva de transparência com seus pares do Movimento. Esta confiança, lembrou, pode ser verificada na decisão da Federação solicitar ao governo brasileiro o direito de ter uma representação no país. Assinado em novembro do ano passado, o Acordo de Sede também vai proporcionar maior visibilidade das ações da CVB.
Rosely Sampaio falou ainda sobre a equação das dívidas; primeiro conhecendo o seu montante e, depois, promovendo sua renegociação. Após listar alguns trabalhos feitos em apoio aos poderes públicos, como o Projeto Zika, em 2016, a presidente falou sobre a criação do Registro Único de Voluntários (RUV), que permite saber a quantidade, as aptidões e disponibilidade dos voluntários em todo o país.
A presidente da CVB frisou ainda que o novo estatuto criou mecanismos claros para que todos os dirigentes, tanto os que ocupam cargos de direção no Órgão Central quanto os das filiais, se submetam a processos de prestação de contas. Após lembrar que a instituição passou a adotar o mesmo critério que a legislação brasileira tem para definir a regularidade fiscal das empresas e cidadãos, enfatizou: “chegou ao fim a era dos isolamentos. Todos somos Cruz Vermelha”.
Os representantes do Movimento Internacional incentivaram o fortalecimento da Unidade da CVB e a busca de maior transparência. José Delgado destacou a clara percepção do “compromisso para uma instituição mais forte e sustentável”. Alexandre Claudon frisou que “não há futuro sem prestação de contas e transparência”.
Em seguida, o presidente da Comissão de Finanças da CVB, Fernando Antunes, lembrou que, de acordo com o novo estatuto, pertence às filiais estaduais e municipais o papel operacional da Sociedade Nacional, cabendo ao órgão central o papel regulador, normativo e fiscalizador. No novo texto também há uma maior padronização de fluxos e processos no âmbito administrativo e financeiro. Antunes frisou que o estatuto está adequado às tendências e exigências do cenário nacional.
Gerente Nacional de Programas, Oscar Zuluaga apresentou o FOCA, um conjunto de indicadores que permite a gestão da instituição de forma sustentável e consistente. Gerente de Controladoria e Finanças, Denílson Gusmão concluiu a parte do dia que antecedeu os seminários técnicos com uma palestra sobre compliance, conjunto de disciplinas para fazer cumprir e estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos, para evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer.
O tema transparência já era assunto de boa parte dos participantes que, na noite anterior, assistiram a palestra que antecedeu o coquetel de boas-vindas, proferida por Lorhan Caproni, da Phomenta, organização que tem como foco a filantropia e o terceiro setor. Após mostrar exemplos de várias empresas que faliram porque não tiveram a capacidade de se reinventar, o palestrante citou a expressiva quantidade de pessoas e empresas que, apesar de desejarem, não fazem doações, desestimuladas pela falta de transparência e incertezas sobre a aplicação do dinheiro.