As intensas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul trouxeram grandes desafios para as comunidades indígenas da região. Estimativas da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) indicam que aproximadamente 9 mil famílias originárias foram afetadas pelas enchentes que impactaram cerca de 70% dos territórios indígenas no estado.
As dificuldades enfrentadas incluem a escassez de alimentos e a impossibilidade de deixar aldeias alagadas, destacando a necessidade urgente de auxílio humanitário. Diante dessa situação crítica, a Cruz Vermelha Brasileira (CVB), uniu diversas instituições, tornando-se um hub de especialistas no atendimento aos indígenas.
“Com toda a catástrofe que aconteceu no Rio Grande do Sul, estamos mobilizando grandes esforços para fazer o atendimento. Uma das populações mais vulneráveis e muito atingidas são as comunidades indígenas, muitas das quais vivem às margens dos rios e já se encontram em situação de vulnerabilidade. Por isso, estamos trabalhando em sinergia com os órgãos governamentais, unindo instituições e especialistas para montar uma operação articulada completa e inédita, a fim de atenuar o sofrimento desse grupo”, relatou Felipe Martins, coordenador nacional de meio ambiente da CVB.
Com a parceria do Instituto de Saúde Sustentável (ISAS), a equipe especializada em telemedicina e saúde digital utiliza aparelhos de última geração para realizar testes com resultados imediatos, incluindo exames físicos remotos, hemograma, glicemia, dengue, COVID-19, influenza, eletrocardiograma, ultrassonografia portátil e fundo de olho.
Além disso, dezenas de médicos especialistas de todo o Brasil foram cadastrados para trabalhar via telemedicina, oferecendo suporte aos profissionais locais na análise de exames e sintomas. A iniciativa permite obter diagnósticos precisos de especialistas e iniciar o tratamento correto com os medicamentos necessários.
Frank Hida, especialista em projetos de saúde indígena, lidera na gestão tanto dos profissionais de saúde quanto dos equipamentos necessários nesta operação.
“Percebemos que havia uma grande demanda não só por doações de alimentos, cobertores e água, mas também por cuidados de saúde. Após uma catástrofe de inundação, há um aumento significativo de doenças infectocontagiosas e outras doenças causadas pela água, além do agravamento pelo frio”, explica Felipe.
Junto com a Funai, o Sesai (DSEI), a Secretaria de Saúde de Caxias do Sul e lideranças indígenas, a CVB mobilizou operações de emergência para apoiar as comunidades mais afetadas.
Uma das áreas prioritárias foi a Comunidade Santa Rita, em Farroupilha, localizada a 14,8 km do centro de operações em Caxias do Sul, e a comunidade de Forqueta, a 7,6 km de Caxias. A equipe da CVB e seus parceiros realizaram 11 atendimentos médicos emergenciais na Comunidade Santa Rita e três atendimentos na Comunidade Forqueta.
“Essas ações são fundamentais para aliviar o sofrimento das famílias indígenas impactadas e garantir que recebam o suporte necessário durante este período desafiador. A situação ainda demanda atenção contínua e esforços coordenados para assegurar a segurança e o bem-estar das populações afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Nos próximos dias, daremos sequência aos atendimentos e ações em outras comunidades”, explica o presidente em exercício da CVB, Kleber Maia.
Até o fim da última semana, 115 pessoas foram atendidas com doações, sendo 25 famílias em Santa Rita, totalizando 82 pessoas. Na Comunidade Forqueta, 10 famílias foram atendidas, totalizando 33 pessoas. A CVB realizou a doação de 83 cestas básicas, 30 kits de limpeza, 50 kits de higiene e 320 garrafas de água de 1,5 litro.
A comunidade Santa Rita enfrenta o risco de deslizamentos e teme o rompimento de uma barragem próxima. Imagens de drones indicam novos deslizamentos e rachaduras na região. Na Comunidade Forqueta, os moradores relataram sentir tremores de terra constantes, descritos como “terremotos”, e imagens de drones mostram o início de um deslizamento em direção à comunidade.
“A Cruz Vermelha Brasileira continua empenhada em fornecer suporte às comunidades indígenas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A situação permanece crítica, exigindo vigilância contínua e ações coordenadas para garantir a segurança e o bem-estar dessas populações vulneráveis”, relatou Maia.